quinta-feira, setembro 02, 2010

UMA HISTÓRIA: A mãe da floresta

A imaginar a novidade crescente, quem poderia acreditar que aquela natureza era mais velha que todo esse nosso tempo recente, pequeno, somando, essa multidão de vontades? Ninguém mesmo chegaria nem perto. As noticias corriam por ai. Todos queriam ver a nova descoberta. Mil anos!!! Até mais. Deus!!! O que são mil anos? Coisa de história, de livros. Vamos ver o que aconteceu em mil anos passados. Tanta coisa. Conversando assim em mesa de bar tudo parecia tão pequeno. Eles se entreolhavam e somente conseguiam sintonizar que realmente a nova descoberta era algo de Deus. O criador havia deixado uma amostra de sua eternidade. Essa criatura vasta, imaginada, simbólica. Coisas grandes assim são a demonstração da imaginação e seu alcance. A criatura humana não imagina, pensa que sim, mas somente conjectura, é outra coisa. É coisa de outra natureza. Essa deidade sim é imaginativa, guarda os tempos, guarda a força de vida. Vai além pelo propósito da permanência. E olhe nós aqui, pequeninos! A rapidez do nada vivemos. E daqui a pouco acaba nossa cerveja! Sim, mas isso é renovável em pouco tempo: garçom mais uma. E aquilo que nós vimos, Deus, aquilo é sim é problema! Imagina ai, derrubar uma criatura daquelas, morre meio mundo. Meio mundo vai abaixo. É, a vaidade humana é bem capaz de cometer esse desatino sim. E nós estamos tão perto e tão longe do milagre que vimos hoje. Verdade. Tão distante é aquilo tudo de nós. Quantos outros tiveram a permissão de chegar tão perto da história, da vida? Por isso, só por isso acredito que ela se esconda de olhos inocentes. E o que achamos que descobrimos sempre esteve lá. Imponente, livre, clara, plena. É verdade. Uma grande catedral isso sim. Um templo. Uma missão de existência! Chega mesmo a emocionar. Você viu que chorei na hora que vi? E eu, tive até medo! Só rindo mesmo. Linda criatura sem igual. Acredito até que ela seja a última fala no meio dessa enormidade toda de mata, a última a dizer: “que seja como sempre foi no tempo, escrita na terra, poesia de vento”. E assim é. Verdade. Será que um dia vão derrubar a Grandiosa? Bom nome, não sei. Tomara que não. Isso seria uma monstruosa maldade. Coisa grande, maior e ruim. E não deixo, eu não quero. Do meu pequenino tamanho não vou permitir. Faço qualquer coisa pra isso não acontecer. Inclusive com a vida? Inclusive. O que vale o mundo sem sombra, do tempo, na vida? Coisa nenhum! Apoiado. Mas sim, sabe o senhor que amanhã temos o encontro maior com essa força toda de proteção. Logo cedo as máquinas estarão cortando não somente o sossego do lugar, mas nos desafiando. E como vai ser? Será que esse povo não vai fazer nada? Será que vai ficar mesmo todo mundo calado? O fim será a queda? E cairemos todos nós. Pois é. Olha não sei, do jeito que as pessoas estão hoje, acreditando que a única saída é dar espaço ao mundo novo. Coisa que de uns séculos pra cá... Verdade, de novo nada. Sempre o mais do mesmo, a ganância. E fincados ficamos nós na nossa inutilidade. Opa, vejo que vocês estão conversadores hoje. Até parece que a vida está muito boa. Também, com tanta cerveja na cabeça. É a única saída que temos nesses nossos pobres instantes. Mas quem é que fala assim? Bebe e se solta, rapaz. Ninguém tá desrespeitando o senhor não. Nem deixaria. Gente que quer ser grande aqui só tem um futuro. A mesma medida abaixo do chão. Silêncio, e mais um gole. Melhor ir dormir, daqui a pouco será outra pernada. É. Já falamos demais sobre nada. Quem não fala transcende. Isso último ficou só no pensamento. Pagaram a conta, guardaram caminho do repouso pouco. A noite guarda suas criaturas. Logo pela manhã a noticia corria que uma morte anunciada encontrava seu personagem. Antes mesmo de começarem os trabalhos circulava que um capataz do dono das terras tinha sido encontrado no pé da grande mãe, amarrado igual Jesus na cruz, nu, e de olhos abertos. Um popular diante da multidão que viu sem surpresa a situação ainda comentou: “e esse caboclo ainda queria viver, morrer de olhos abertos, só se fosse pra matar os outros. Encontrou o dele”. Naquele dia o programado ficou para mais adiante. Mais um dia de eternidade e medo.

Luciano Magnus de Araújo – Da série “Mundo Pequeno”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom, muito bom.

O egoismo sempre nos faz calar," não estão mexendo comigo"... até quando?

Anônimo disse...

Mil anos, o teremos daqui a mil anos?
nada? ou para outros tudo?
o egoismo nos cala.
Bom escrito...Bom lembrente.

Yasmin Vitória