Nenhum ponto de vista é isento, nasceu de alguma conjuntura, repercute cenários possíveis de influências. Como evitar estar em debate em sala de aula não esbarrar nas opiniões dos alunos, como pontos de vista passiveis de verdade. Descartar essas idéias construídas a queima roupa seria, no mínimo, leviano da parte de qualquer educador. Diminuir o que repercute da compreensão dos eventos de todos os dias, na observação daquilo que são os fatos mais evidentes, as repercussões dos meios de comunicação, das conversas em mesa de bar, nos transportes coletivos, nas ruas, como não identificar nisso certa verdade. Educa-se também pela convivência, aliás, nossa forma mais comum de educação. Na sala de aula temos o momento da catarse da opinião, ao menos assim deveria ser.
A livre opinião deveria ser cultivada, assim o dever ser ético refletido nessa livre expressão se realizando sem barreiras. Mas os obstáculos existem, há vieses que são da pura natureza da argumentação, há as tergiversações ideológicas. A busca pela certeza, num debate, a opinião mais correta, o certo de tudo. Como se numa cidade as esquinas guardassem segredos. E conhecer certos traçados, certos limites, certas narrativas fossem virtudes para melhor viver. Mas há os que conhecem bem pouco da natureza dos argumentos, ou mesmo daquilo que se arvoram a falar. E quando não se preocupam com a diversidade de fontes para se entender a realidade cria nichos de intolerância que se aferram como se fosse a única verdade do mundo. O ouro de todo! Mas existem as vaidades e muitos nem mesmo querem permitir a palavra, quedou-se o debate, morreu a possibilidade de conhecer o que pensa o outro. Não conhecer como se pensa é algo perigoso, o que pensa o outro, o que penso eu mesmo. Não saber pensar é uma das mazelas do mundo contemporâneo. Pensar demais é fruto do tanto demasiado de fontes e perspectivas. Ao final, sabendo que precisamos escolher, o menor trabalho é se aferrar aos fatos, e dizem alguns: “contra fatos não há argumentos”. Quebrou-se a possibilidade de argumentos, acabou-se um sentido do aprendizado em sala de aula, findaram-se as conversações. Nenhum fato é o bastante. Quem estava lá para viver? Quem protagonizou para saber? Quem sentiu para interpretar?
As adesões são recortes e não cair no erro de catequizações precisa ser algo cuidadosamente ponderado pelo educador. Mas existem ingenuidades a vista. De tão acostumados com terem sempre a autoridade dos professores como emissários do saber, ou quase isso, ou nada disso; os alunos, muitas vezes se arvoram a vôos cegos ao mundo de certas idéias sobre temas tão longe de suas reais vivências que se deixam levar por fatos, apenas fatos. E cegam suas rotinas de pensamento. O mais evidente parece ser o mais real, já que convence aos olhos. Mas, cá ficamos nós, em nossos exercícios de idéias, assim como a boa filosofia nos sugere: duvidar e não se deixar enrijecer. Uma das barreiras que nós educadores certamente nos deparamos quando estamos a emitir opiniões em sala de aula, principalmente em aulas de humanidades e filosofias, toca a idéia de que somos pouco éticos, ou nada, quando tateamos a idéia do outro e a reputamos como mal construída por faltar certas luzes. E nesse caso deixamos muitas vezes de pensarmos em nós mesmos e nos colocamos a pensar que outros estão sendo levados a erros de interpretação, os silogismos. Mas o que seria um erro de interpretação? Quando alguém escolhe ir para direita porque à esquerda há um grande monstro que as imagens na parede mostram como verdade única, coisa que somente eu vejo na adesão dos meus outros colegas que me apóiam sem analisarem o mundo lá fora. E assim vamos nós, educadores, carregando a alcunha de sermos subversivos das idéias dos outros. Esse texto foi construído para ser pouco claro sobre a tal verdade de tudo e muito mais próximo dos compromissos sociais, já que a ética é de ouro... E ainda somos tão tolos nos nossos localismos...
Msc. Luciano Magnus de Araújo.
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