quinta-feira, março 13, 2008

OS DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES DE UMA UNIVERSIDADE NO ESTADO DO AMAPÁ, BRASIL

Tendo em mente os movimentos do tempo, não podemos nos furtar a pensar sobre a atualidade e urgência de refletirmos sobre figura humana e o seu contexto de vida. É comum nas conversas das pessoas nas ruas, nos meios de comunicação, nas estatísticas e documentos oficiais ou de fontes outras, o argumento de que existem certos requisitos para que uma localidade, um povo, um tempo, uma projeção possa ter sucesso. Em meio a tantas discussões o que podemos entender é a necessidade de discutirmos, e cada vez mais aprimorarmos nossos mecanismos de visão sobre o presente, o futuro e o passado.
Essa força ou protagonismo critico, participativo e organizado precisa sintonizar não somente como se fosse uma unidade de propósitos, mas respeitando as divergências nas estratégias de realização. Mesmo por que não vivemos unanimidades no corpo social, somos criaturas que participamos da vida em meio ao contingente e ao planejado. Daí termos cuidados em trabalharmos as boas e valorosas adesões a propostas que possam contribuir para o desenvolvimento de um povo e de um lugar.
O estado do Amapá para os que chegam e para os que vivem ainda é, por certa ótica, um lugar carente de certos requisitos de crescimento, um lugar onde convivem as solicitações por melhoramentos, implantações de serviços e novos pontos de vista (existentes em outras praças), mas que por outro lado ainda possui muito do ritmo normal das coisas dessa terra: os costumes, as práticas culturais, o tempo de uma vida que não deve ser comparado com outras capitais e rincões onde esse mesmo desenvolvimento transformou homem e meio em meras mercadorias ou caricaturas de tempo que não voltarão mais. Em certos aspectos o Amapá já é isso; em outros ainda demanda tempo.
No campo da construção de conhecimento, de saberes, de profissionalização qualificada os desafios e espaços para contribuições estão postos aos gestores públicos e da iniciativa privada do Amapá. A Universidade Estadual do Amapá já é realidade, um ganho, sem dúvidas para o contexto local e regional. É uma instância de saberes e fazeres que certamente em parceira com UNIFAP e com as IES privadas poderão incrementar o tão discutido desenvolvimento para o estado e população amapaense.
É preciso, no entanto, destacar os potenciais, e o cenário humano e, principalmente, o contexto de modalidades de atuação dos vários cursos elencados pela instituição. No campo das engenharias o desafio é conseguir formar profissionais que tenham o devido compromisso técnico e ético em definirem planos de trabalho que contemplem não somente trabalhar para o desenvolvimento, mas que também saibam equacionar e diminuir, senão extinguir o depredamento do meio ambiente, articulando a valorização da dimensão humana, sem a qual nada teria sentido. O compromisso é realisticamente conseguir traduzir as riquezas de mananciais florestais, aqüíferos, de fauna e flora num conjunto de ações que efetivamente tenham validade não somente para as populações urbanas, mas sem grau de prioridade que, também, estejam presentes às comunidades tradicionais do estado. A disposição da pesca predatória, inviabilizando as épocas de defeso é algo inadmissível tendo em vista o indiscutível respeito aos ciclos normais de reabilitação da natureza. Pensamento semelhante precisa ser amplamente discutido pelos especialistas, mestres e doutores que irão lecionar as disciplinas que mencionem aspectos sobre desmatamento, sustentabilidade e temas afins. O objetivo em vista deve ser a relação homem-natureza como continuidades e não como instâncias separadas; e a propósito, esse tipo de racionalização tem contribuído para a construção de uma realidade que cada vez mais destrói bens naturais sob o pretexto do progresso. Erro lamentável.
Por outro lado, as formações de matriz humanística precisam ser valorizadas como sendo currículos integrais, ciências ou abordagens tão necessárias quanto às técnicas. Durante muito tempo a pedagogia, filosofia, os estudos lingüísticos e literários foram relegados a lugares secundários, assim como as chamadas Ciências Sociais. É preciso reabilitar esses campos de conhecimento pra que possamos ter em nosso contexto social pessoas igualmente preocupadas com as dimensões estruturais e estruturantes, históricas, complexas, realimentando debates, criticas, propostas e encaminhamentos. Certas realizações exigem o debate qualificado, fundamentado, tendo por sua vez planejamentos realísticos sob pena de não conseguirmos realizar ações urgentes, ou mesmo ações irresponsáveis serem iniciativas que canalizem recursos públicos para nada.
O compromisso da UEAP é crescer e realizar uma pauta de construção de saberes que estará caminhando em paralelo com as percepções das necessidades do estado. Por isso as parcerias, por isso o compromisso de parcerias com a iniciativa privada e os gestores públicos. As instâncias de pesquisa implantadas no estado poderão ser essa outra parte do diálogo sobre saberes e conhecimentos. O aporte de profissionais qualificados que chegam todos os anos ao estado incrementa a troca de saberes. A cooperação, as relações interdisciplinares, multidisciplinares, os convênios de pesquisa, o fomento a iniciativas que possam formar banco de dados sobre o estado do Amapá. Tudo isso, portanto, demanda tempo de preparação, motivação, verdade, a indicação metas realistas a serem alcançadas.
A representatividade da universidade enquanto síntese de uma comunidade de conhecimento igualmente representa sonhos e projetos. A democratização do conhecimento, portanto, traz aos acadêmicos, funcionários, gestores do ensino superior e população em geral esse compromisso inarredável de cobrar e zelar pelo patrimônio conquistado em prol do conhecimento e de uma sociedade mais justa e conhecedora de suas próprias contradições, e certamente construtora consciente e participativa de possibilidades criativas de autonomia e progresso sérios. A UEAP não deve ser encarada como moeda política, lugar de facilitações ou algo desse viés, mas como lugar de referência para a juventude e para os interessados em fundarem o presente e o futuro de seu tempo e lugar. Nesse sentido teremos para breve quadros humanos e técnicos que possam contradizer opiniões de que o estado do Amapá é retrato do atraso; e para que seja possível construir a imagem de uma terra que consegue aliar tradição, natureza exuberante, povo sabedor, e criatividade técnico-cientifica. Sem esquecer que a riqueza para os olhos e sentidos é a imagem da coerência daquilo que se constrói aliando todas as dimensões da vida: o passado-presente-futuro, ou seja, história-trabalho-sonho. O processo está acontecendo...
Luciano Magnus de Araújo - Antropólogo, educador e pesquisador sobre culturas, mestre em Ciências Sociais. Lucianoaraujo3@yahoo.com.br, http://www.neppac.blogspot.com/

BEIRA-RIO, MACAPÁ E ESPAÇOS PÚBLICOS

É comum, quando se referindo a um passeio descontraído, chamar o dito ato de charlar. Andar a esmo, por ai, um rolê, como se diz em outras praias e praças. Em Macapá não seria diferente, existe um lugar próprio para que as pessoas possam gastar tempo sendo vistas, mostrando-se, procurando e encontrando motivação para encontros, ou simplesmente estando. Esses lugares, já estudados pela antropologia, compõem circuitos, manchas, espaços, trajetos referentes a grupos, pessoas que se identificam por terem uma relação recorrente em usar e estar nesses espaços urbanos. Repleto de sentidos a cidade não deve ser vista somente como espaço de circulação, mas também como lugar de construção da cidadania.
Nesse contexto, a permanência desses lugares reconhecidos pelas pessoas como pleno de sentidos para caminhar, para o lazer, atividades econômicas, deve ser assegurado em parte pelos próprios usuários, nós todos os cidadãos, a iniciativa privada em seus empreendimentos e utilizações, e compondo o tripé, os poderes e gestores públicos como mantenedores pelo bem comum. É importante ainda salientar que nenhuma proposta visando benefícios a coletividade pode excluir os impactos das ações. Quando falamos de planos, projetos e iniciativas que comportem interesses diversos é preciso deixar bem claro quais serão as conseqüências dessas iniciativas, sob pena de se construir ações parciais, demagógicas, sem praticidade para o cotidiano da cidade e da população.
Em respeito a esse contexto bem sabemos que o município de Macapá necessita de melhoramentos estruturais que repercutem nos problemas apontados pela população: vias sem ou de precária pavimentação, acumulo de águas e falta de drenagem, buracos ou asfalto ineficiente, falta de saneamento, dentre uma série de outros problemas mais específicos ou mais amplos. É bem certo que esses problemas estão na agenda das cidades, grande médias ou pequenas, e que não há como furtar-se aos desafios. No entanto, é preciso ponderar sobre o alcance das resoluções desses problemas, principalmente quando possuem alguma relação como alguns pontos da vida urbana: lazer, economia, cidadania, gestão e uso de espaços públicos.
É comum à iniciativa pública, utilizando-se do argumento de melhoramento das vias e equipamentos públicos, promover o atravancancamento da realização do ser cidadão nas acepções que o cotidiano pode suportar. Conto melhor. Os freqüentadores da Beira-Rio, da Praça Zaguri e do Trapiche Eliezer Levy, estão impedidos de realizar seus costumes diante do Rio Amazonas, por falta de perícia dos planejadores urbanos na demora da execução do projeto arquitetônico. Passadas as festas de ano passado, entrado outro ano, chegado carnaval. Será que a prática realmente irá vigorar, do Brasil começar a funcionar depois do Carnaval?
O incomodo geral e amplo deve ser dimensionado nos planejamentos das políticas públicas. Para além do lazer dos cidadãos é preciso pensar os danos causados na economia de dezenas de famílias. O quando do turismo é posto em cheque pela demora, a perda da beleza na aparência dos tapumes, e obras evidentes. Em épocas de chuva chegada-chegando certamente teremos mais atrasos.
É bem certo que a intenção do administrador público presume melhoramentos, embelezamentos, praticidades em benefícios de todos. No entanto, é preciso diligência, gerenciamento mais eficiente e o senso de ouvir os diretamente implicados nesse processo como os vendedores dos quiosques, ambulantes, passantes, turistas, empreendedores.
Luciano Magnus de Araújo - Antropólogo, educador e pesquisador sobre culturas. Lucianoaraujo3@yahoo.com.br, www.neppac.blogspot.com

terça-feira, março 04, 2008

NOVAS PERCEPÇÕES

Estamos atentos ao que acontece no cenári local. Não estamos mortos, nem muito menos desatentos. Coisas acontecem na cidade, lugar de muitos e de poucos. Precisamos praticar o sentido da atenção, vendo, entendendo, investigando, para divulgarmos, publicarmos, deixando clara nossa opinião, nosso posicionamento. Em breve precisamos falar sobre os acontecimentos no processo de seleção da Escola de Lingua e Cultura Francesa Danielle Mitherand, sobre a falta de planejamento e o sistema ainda defasado de seleção. Precisamos de pautas. Favor colaborar. Mais provocações e informações em breve.