domingo, julho 12, 2009

De jornalismos, opiniões e diplomas

A pauta mais atualizada, talvez pouco tratada ainda, mais que repercute em alguns setores, trata da queda da obrigatoriedade do diploma para que se trabalhe em empresas de comunicação. Essa talvez não seja uma preocupação maior da sociedade brasileira, saber que setores de empregabilidade exigiam credenciais técnicas, talvez não seja preocupação muito menos por parte daqueles que circulam no meio comunicacional, como jornalistas ou aspirantes. De fato alguns setores reclamaram, falaram, reportaram suas concordâncias e indignações, tanto aqueles que discordaram ou concordaram, sendo jornalistas ou não, certamente repercutindo nenhum consenso.

Alguns problemas podem ser relacionados à decisão da Suprema Corte brasileira. Na sociedade contemporânea qual o papel da técnica? Qual o lugar dos reconhecimentos numa sociedade meritocrática? Qual o papel daquilo que podemos investigar como sendo a raiz da liberdade aludida pelos senhores do STF, será a opinião?

Perguntas pululam nas salas de aula dos cursos de jornalismo. Será que vale a pena ser jornalista? Sem diploma? E sobre mercado de trabalho? Todo mundo agora pode ser jornalista? Será o jornalista menos que cozinheiro do bar da esquina? Questões que não clareiam o problema, mas despistam, distraem, superficializam.

Aqueles estudantes, que vivenciaram ao menos um semestre do que vem a ser o curso de jornalismo nas faculdades e universidades brasileiras, que pensam em deixar o curso pelos atuais acontecimentos, não entenderam o que estudaram, não entendem a natureza do trabalho do jornalista em nossa época, estão ocupando um lugar de maneira interesseira, nada nobre, sem metas sociais e criticas para o presente-futuro. Aos que ainda não estão freqüentando os bancos do ensino superior e que pretendiam cursar jornalismo, nada muda diante dos desafios de democratização e problematização da realidade. Não é o diploma o problema, ou o pouco valor dado a esse documento em algumas dimensões da vida social. O cerne da história deve ser enquadrada em meio a uma discussão entre técnica, talento, prática, compromissos, projetos, modelos de sociedade; e mesmo a natureza da prática jornalística em comparação a outras atividades e seus reconhecimentos.

A natureza daquilo que se faz nas ciências médicas, nas ciências jurídicas tem o caráter de construir campos de conhecimento que são amadurecidos tanto por um conjunto normativo que é identificado por especializações, fragmentações de conhecimento, discursos que exigem a seus interessados o direto ingresso em uma rotina que não é fácil devido a necessidade de se aprender a ser, a se empoderar das rotinas, falas e procedimentos. A natureza desses campos é construir especialistas, competências que não podem se sustentar por pontos de vista particulares, mas somente sustentados pela técnica, pela cientificidade. Nesse campo do que é científico ou não é onde se inclui os fazeres jornalísticos ou das comunicações. Qual a natureza do jornalismo? A opinião é uma de suas bases. Opinar parece ser da natureza das gentes: falar livremente, dar seu ponto de vista sobre algo, execrar ou enaltecer, protestar, conformar. Durante muito tempo fomos impedidos desse exercício de liberdade. Esse muito tempo depende, obviamente, da perspectiva de quem vê, situando-se no tempo, a partir de sua trajetória histórica, de suas disposições ideológicas. O jornalismo, ou certo tipo de material veiculado cotidianamente mundo a fora, seja em meios reconhecidos como jornalísticos, seja em outros veículos como as chamadas mídia sociais (Blogs, sites e outros) está repleto de opiniões. Quem pode vetar a liberdade de opinião? A contra-opinião, os grupos de censura (mercadológica, política, ideológica)? A opinião nossa de cada dia fez muitos praticantes de jornalismo, clássicos, que nunca passaram pela academia. A opinião nossa de cada dia vende idéias sobre o que são ou devem ser os passos morais e éticos dessas sociedades mudo afora. A opinião nossa de cada dia forma aquilo que essas hibridas classes sociais pensam, como pensam, sobre o que pensam daquilo que elas mesmas fazem parte. Mas temos problemas no percurso atual. As opiniões tendem a se tornar cada vez mais tendenciosas, seja politicamente, ideologicamente, economicamente. Os perigos diante de tantas formalizações é se achar que todas as opiniões são válidas de crédito. É preciso ter mecanismos de percepções mais consistentes para analisar a realidade. Nesse contexto, a técnica assimilada nas academias podem ser de grande valor. Podem, se forem criteriosamente, livremente e criativamente relacionadas. O trabalho com conceitos, técnicas, procedimentos, teorias, metodologias incrementam a profissionalização, o corpo técnico, e autonomia de atuação, o nicho de trabalho. Sem isso, os espaços estão abertos para que muito do que se pensa ser prática jornalística meramente opinativa não seja visto realmente como jornalismo contundente, científico, construindo condições de auto-crítica e engrandecimento. A instituição que não se auto-avalia não o faz ou por não se conhecer ou por ser baseada em atributos distantes do compromisso social para o qual foi gestada na sua multiplicidade de atores sociais.

Por outro lado, é preciso pensar que se certas empresas não terão mais obrigatoriedade em reconhecer os documentos de profissionalização de seus possíveis contratados, isso não invalida esse documento, tendo em vista que a sociedade é muito mais complexa, há muitas outras realidades que exigem diploma: editais públicos, seleções outras. O mundo é muito vasto. A complexidade da vida social abre, portanto, um maior cuidado com o trabalho com a informação. Velhas fórmulas são dinamicamente resignificadas por novas maneiras de encarar o fenômeno da comunicação. Mas essas novas abordagens somente terão sentido se os novos cientistas do fenômeno da comunicação, os pensadores sobre as sutilezas da expressividade humana despertarem para construção de categorias, o entendimento do que está sendo dito, novos saberes em processo. A academia é um lugar de debates, de aprendizados, de novas assimilações e exteriorizações. Dificilmente, nas redações, estúdios e produtoras esses conceitos estão sendo discutidos em seus parâmetros epistemológicos, mas estão sendo feitos na prática, a segunda metade do aprendizado; que em relação com a outra metade – a teoria – constroem um mundo com mais escolhas e possibilidades de entendimentos e expressões.

Qual jornalismo queremos? Que jornalistas são esses que vêem somente o papel pintado?


Respiros

Não é nada de menor relevância o pedido coletivo de bancadas do senado e parcelas da sociedade política para que o Presidente do Senado deixe seu cargo, o senhor José Sarney. Certamente alguma coisa já muda na onipotência e onipresença dessa figura política.

Como irão se comportar as forças políticas do Amapá diante desse movimento em solicitação da saída do velho senhor de manadas de cena, aquele da ilha?

Bom funcionário é aquele que fala aquilo que, somente, o patrão pensou, assim ganha crédito. Acho que o sociólogo Max Weber não chegou a pensar nesses termos, mas falou muito sobre de funcionários e lobos.

Desculpe-me pela ausência. Fim de semestre no ensino superior, além de atividades de pesquisa às vezes é fogo.