quinta-feira, junho 16, 2016

O FOGO MAIS CARO EM MACAPÁ

    A pop tocha olímpica chega ao Amapá. Aqui, ali, acolá nas redes sociais vê-se ela por todos os cantos da capital amapaense. Cantos tradicionais, cantos mundanos, cantos do cotidiano onde as menos importantes das gentes são passantes, estará a tocha. Mas não e bem assim! É preciso limpar o meio, mascarar a paisagem, embelezar marcas já conhecidas pelo cidadão comum. A tocha olímpica merece o novo, o renovado, o aparente, mesmo que não saiba das realidades por onde passa.
   Longe de todo simbolismo de tempos, de integração, de congraçamento, qual é de fato o valor de algo dessa natureza nos mais distantes rincões do mundo? Quanto custa? O que mobiliza? No que destoa? Vejamos...
      Nas localidades, cidadãos e cidadãs são escolhidas, tendo suas trajetórias individuais como aqueles e aquelas privilegiados-das a conduzirem eloquentemente o fogo de tempos idos nas ruas. Mesmo que esse fogo não seja assim tão convincente e empolgante. É a vaidade, diriam, alguns-algumas, é a vaidade de ser escolhido e estar na berlinda maior, a rua, lugar de todos e de ninguém.
    O simbolismo vago num pais que precariamente apoia os esportes. Num pais que convive diariamente com misérias e carências tamanhas e que investe-gasta terrivelmente suas riquezas em coisas e pessoas, na maioria das vezes, sem alguma representatividade. Mas representar hoje em dia, ou quem sabe em tempos olimpianos, sempre foi algo muito bem trabalhado por instância políticas, de Estado. Esse simbolismo perdura, o circo atrativo de conduzir o fogo mais caro chama as sensibilidades. Busca sensibilizar a população, é preciso ser eficiente sobre a mensagem do lugar onde irá acontecer um evento com tanta idade. É preciso gastar esse simbolismo. Gastar valores. E quantos! Duzentos e cinquenta mil reais somente para o evento no Macapá. A crônica local aponta dez mil de contrapartida da prefeitura, o restante do governo federal e patrocinadores oficiais. Evento rendoso pode-se supor. Muito dinheiro nas esferas maiores. Quem irá duvidar? Mas na vida provinciana, quem recusará fazer parte? Torna-se eloquente a mensagem, embelezada, alegre; onde haviam buracos, resolve-se um maqueamento para que sumam. Onde havia um lugar bonito ali, ao sabor do cotidiano, bonito seja, torna-se; onde pessoas na militância dos dias em meio as agruras de suas lutas sem fim sobre temas muitas vezes sem vitórias, um afago para ser aquele-aquela a conduzir o fogo mais caro.
Uma cidade mobilizada em prol daquilo que não é de sempre, não acontece usualmente, não faz parte. Bem será por isso que se mobiliza, na alegoria da integração desejada, nos descompassos dos resultados esperados e sabidos, diante dos investimentos em juventudes e talentos pouco reconhecidos, seguimos destoando nossa realidade naquilo que fazemos parte sem ser. Aliás, somos olímpicos em esperança, em boa vontade, em otimismo. Ainda somos olímpicos em esperar... E sempre que chamados fazemos parte da festa, dos outros.
Assim como a Copa do Mundo, assim serão os Jogos Olímpicos no Brasil. Um grande espetáculo para enriquecer grupos, no bolso e na vaidade, mas ainda assim, chamando uns tantos mortais para fazerem parte do que será entendido o fogo que integra, mas que sabemos muito bem que para existir queima muito potencial sem apoio. Depois do padrão FIFA, outro padrão está nas ruas: o fogo fátuo olímpico. Belo dia estadual do Marabaixo!