segunda-feira, março 13, 2017

Viver (n)a cidade (des)continuamente


Folias de momo idas, nas oficialidades extraoficiais: ano iniciado. Tempo de organizar as finanças e tocar a vida no melhor ritmo possível. Questões urgentes e redivivas: como está a vida na cidade? Síntese e definição, a cidade recorrente em historicidades e potencialidades, atualizações e ineditismos. De desventuras ou-em (a)venturas, viver na cidade compõe, muitas vezes, um misto de adaptabilidade, criação e estranhamento. O cidadão urbano, como quase um pleonasmo, não o é impunemente.
O ser urbano imprime características, opera manias, é na mesma medida em que deixa de ser como maneira de corrigir-marcar novos passos na cena urbana. Contradições postas, esse individuo urbano compõe histórias individuais e coletivas. Misturam-se nas identicidades de quem vive a urbe ao menos duas condições: a presença e a descontinuidade.
Presentificamos o ser corpóreo, material, que ocupa, que denigre, que coloca sua presença nos espaços, nas potencialidades e criações, para o bem ou nem tanto. Essa mesma criatura que sabe de si e dos outros na geral normalidade dos seres viventes em coletividade. E assim seguimos... A presença pode por vezes dar o ensejo de rotinas cujos desdobramentos se esvaem por entre os dedos de seus próprios produtores. Nisso temos o lixo de casa que polui a cidade, as violências que saem e adentram os espaços domésticos e públicos, os mal-entendidos dos interesses políticos individuais e coletivos; nossas ausências de corpo presente e mente ativa quando as situações assim nos exigem. A presença repercute outra parte que quase se-nos confunde: nem sempre somos lineares, nem sempre somos harmônicos, nem sempre somos coerentes com enredos horizontais, nem sempre o dito revela toda a verdade...
A descontinuidade e o individuo urbano são pontos mais sensíveis do processo de vida coletiva. Construímos processos descontínuos quando colaboramos-agimos para rupturas, desconstruções, cortes, dentre outros sinônimos processuais. As desconstruções nem sempre são demandas unanimes, elas igualmente servem para fundar normas operacionais sobre como reconhecemos limites na vida, no tempo, feito balizas e demarcações que podem nos auxiliar nas identificações históricas, sociais, coletivas, individuais. Uma descontinuidade pode ser um desacordo, discordâncias, incômodos. Essas atuações podem ser aprendidas. A vida social pode ser pedagógica nesse contexto, nas participações, sendo o individuo atendo ao que se desdobra a sua volta. Não sendo esse individuo algo passivo nas continuidades presenciais, sendo mais na conta das tantas operações que o situa como distante do seu protagonismo na vida social, na cultura, na história, a própria história individual ou coletiva.
 A cidade é o cenário complexo para esses temas. As lutas cotidianas, visíveis e invisibilizadas dão conta de dramas, vitórias e derrotas inspiradoras para que o indivíduo urbano possa aprender a construir sua presença de maneiras múltiplas. Parece que o único comportamento que se pede é a potencialidade de uma personalidade plástica, moldável aos desafios da urbanidade. Ainda assim, essa caraterística não deve ser argumento para práticas nocivas, perniciosas, envenenadoras da-na vida cotidiana. É salutar pensar no lado bom da vida e colaborar para que isso aconteça. Esse lado bom é igualmente complexo, viver o bom da cidade é saber o que é bom como requisito de responsabilidades, lutas e consciências.
Ser cidadão é uma identificação que igualmente passa por uma assimilação real de ser parte de algo que se busca uma relação orgânica. A natureza dessa relação é viver seus problemas, suas possibilidades criativas, decidindo, pensando, reclamando, sendo sem meios termos. Viver a cidade é ter respeito e cuidados sobre absolutamente tudo que faça parte desse cenário, na clareza da responsabilidade de tudo que o ocorre como algo compartilhado. A grande rede de relações e símbolos é aquilo que faz nossos trânsitos nos contextos urbanos, ninguém é uma ilha nesse grande cenário...

Respiros

- Como anda a produção cultural urbana?
- Tenho sempre a compreensão do que me chega como verdade?
- Professor, professora, como estão seus estudos continuados? Parados? ...
- Você conhece as bases daquilo que apoia?
- Agora é ordem unida nas salas de aula?

Luciano Magnus de Araújo
Antropólogo



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