quinta-feira, março 23, 2017

A escola e seus modelos de ensino


         
          Vivemos num tempo em que se exige posicionamentos. Pensar deveria ser a competência de sempre. Mas em tempos como os nossos, quando estamos sempre a sermos provocados pelos temas os mais diversos temos que nos fazer presentes nos debates.
Debater é se empoderar, fazer parte nos conjuntos das proposições, destacando as incoerências ou sucessos. É preciso não ser alheio ao tempo histórico que vivemos. Essa característica do tempo histórico define-se por a todo tempo estarmos a travar relações que se perpetuam, influenciando, contemplando outras perspectivas, fortalecendo posicionamentos, tendências, ideias, práticas. Ou mesmo fortalecendo cenários distorcidos, excludentes, desiguais, mascaradores da verdade. Não há espaço, repito, para alheamentos. Nenhuma tomada de posição é neutra, nunca foi, nunca será, seja de indivíduos, coletivos, instituições, gestores. Refletir sempre é tomar partido, mas a falta da reflexão igualmente pode ser algo de graves consequências. Nesse vasto cenário de possibilidades, problemas postos...
Como está nossa escola? Conhecemos esses espaços de construção de conhecimentos, não o único? Conhecemos, de fato, a escola onde estudam as gerações que compõe uma sociedade presente-vindoura? Sabemos dos modelos de gestão atualmente desenvolvidos? Procuramos saber o que falta na escola, inclusive em nossos alheamentos e ausência, enquanto pais e responsáveis e alunos? Sabemos quem são os gestores de nossas escolas? Como pensam? Conhecemos nossos professores, no que acreditam, o que constroem e como lutam o cotidiano educacional? Sabemos nós das realidades que rodeiam as escolas? Identificamos nossos alunos, suas necessidades e particularidades? A forma como vemos a escola reflete nosso modelo social? O que esperamos da escola hoje? O que a escola pode esperar de nós? Como queremos educar? Procuramos entender sobre as relações de poder no espaço escolar? As relações da escola com seu entorno? A sala de aula e suas especificidades? D o modelo pedagógico, sabemos algo?
As questões em profusão não devem cansar. Elas são urgentes, tendo em vista que devem ser guias para se pensar a escola em sua presença de fato, não como aparato invisível, nem como espaço onde deixamos pessoas ou para onde pessoas vão sem que tenhamos nossas responsabilidades. A escola precisa ser pensada, vivida como um elemento orgânico e também complexo em meio a vida coletiva, seja urbana ou rural. A escola como um espaço dinâmico, atraente, aberto, sintonizado com seu tempo, empoderadora, criativa. 
Mas para isso acontecer, termos uma visão mais clara sobre que lugar de aprendizados queremos, é preciso ter conhecimentos sobre modelos de gestão, modelos pedagógicos, maneiras de se construir saberes, rotinas, cuidados com as pessoas, com o presente e com o futuro. Essas escolhas não devem ser feitas tendo como mediação a desesperança do tempo presente, nem mesmo levando-se em consideração modelos salvadores de eventuais e rotineiros desacordos na vida social. A escola deve ser pensada em relação ao que está a sua volta, sem que sobre ela recaia a responsabilidade de resolver o que outras instituições (família, comunidade, poderes públicos, associações, coletivos vários) se eximem em participar.
Nesse contexto, propostas existem como modelos, que exigirão das equipes escolares, comunidades, discentes, sociedade, esclarecimentos conscientes do que se quer na valorosa relação entre presente-futuro. Nisso podemos listar maneiras de se entender o que pode ser essa escola, para citar algumas: Escola tradicional, Escola democrática, Escola de tempo integral, Escola militar, Escola da Ponte, Modelo Summerhill, Escola construtivista, Escola técnica, Escola crítica, Escola Pós-critica...
            Esses modelos e tantos outros possíveis definem encaminhamentos, historicidades, e muitas vezes indícios que podem remontar panaceias ao que pode dar certo, como último recurso diante de um contexto já de poucas evidências de sucesso. Por outro lado, sair de uma forma para outra não garante esse último patamar. A escolha passa por uma reflexão cuidadosa. Será que e escola dever ser um laboratório social, será que é isso? Como micro-espaço de atuações a escola, a sala de aula, sua rotina, cumprem demonstrações sensíveis do que está fora do seu contorno. E muitas vezes percebemos a falta de comunicação estre essas duas instâncias. É preciso acompanhar os processos, ser parte, emporar-se do que constitui os espaços escolares. Fazer-ser um sujeito social não é tarefa de um lugar, não se faz de uma forma, não é desdobramento de uma receita. Somos o resultado de escolhas várias, de problemas diversos, de desafios sem fim enquanto vida existir e até para além dela... Talvez a única variável fundamental que precisa ser deixada claramente à mesa deva ser a liberdade. Estamos construindo processos libertários? Emancipadores?
            Ser livre é conhecer-se. Sendo assim apto a conhecer o mundo. Essa autonomia não segue modelos, receitas, padrões, mas é fruto da vivência, do diálogo, do debate, das participações, dos protagonismos, dos erros, dos acertos. Devemos cuidar da esperança com quem cuida do sono noturno: em confiança, vigília, mas sonhadores das particularidades que o sonho pode trazer... Os indivíduos são demonstrações de pulsões e contradições que precisam de liberdade para serem plenamente. O ambiente e seus ocupantes seriam sujeitos gentis agindo no sentido de respeitar, entender, assimilar as individualidades e suas historicidades.
            Temos responsabilidades e o tempo repercute nossas escolhas, estejamos atentos, a escola merece e exige o nosso melhor.

Respiros:
- A rua tem sua pedagogia, democrática, política;
- Professores e professoras, suas demandas são legítimas!
- 15 de março: Dia da Escola!
- Quem educa quem?

- Mantra: Meu educar é um ato político.

Artigo publicado originalmente no Jornal A Gazeta, de Macapá, Amapá, em 19/03/2017, na Coluna Observatório.

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