A pop tocha olímpica
chega ao Amapá. Aqui, ali, acolá nas redes sociais vê-se ela por todos os
cantos da capital amapaense. Cantos tradicionais, cantos mundanos, cantos do
cotidiano onde as menos importantes das gentes são passantes, estará a tocha.
Mas não e bem assim! É preciso limpar o meio, mascarar a paisagem, embelezar
marcas já conhecidas pelo cidadão comum. A tocha olímpica merece o novo, o renovado,
o aparente, mesmo que não saiba das realidades por onde passa.
Longe de todo simbolismo de tempos,
de integração, de congraçamento, qual é de fato o valor de algo dessa natureza
nos mais distantes rincões do mundo? Quanto custa? O que mobiliza? No que
destoa? Vejamos...
Nas localidades, cidadãos e cidadãs
são escolhidas, tendo suas trajetórias individuais como aqueles e aquelas
privilegiados-das a conduzirem eloquentemente o fogo de tempos idos nas ruas. Mesmo
que esse fogo não seja assim tão convincente e empolgante. É a vaidade, diriam,
alguns-algumas, é a vaidade de ser escolhido e estar na berlinda maior, a rua,
lugar de todos e de ninguém.
O simbolismo vago num pais que precariamente
apoia os esportes. Num pais que convive diariamente com misérias e carências
tamanhas e que investe-gasta terrivelmente suas riquezas em coisas e pessoas,
na maioria das vezes, sem alguma representatividade. Mas representar hoje em
dia, ou quem sabe em tempos olimpianos, sempre foi algo muito bem trabalhado
por instância políticas, de Estado. Esse simbolismo perdura, o circo atrativo
de conduzir o fogo mais caro chama as sensibilidades. Busca sensibilizar a
população, é preciso ser eficiente sobre a mensagem do lugar onde irá acontecer
um evento com tanta idade. É preciso gastar esse simbolismo. Gastar valores. E
quantos! Duzentos e cinquenta mil reais somente para o evento no Macapá. A
crônica local aponta dez mil de contrapartida da prefeitura, o restante do
governo federal e patrocinadores oficiais. Evento rendoso pode-se supor. Muito
dinheiro nas esferas maiores. Quem irá duvidar? Mas na vida provinciana, quem
recusará fazer parte? Torna-se eloquente a mensagem, embelezada, alegre; onde
haviam buracos, resolve-se um maqueamento para que sumam. Onde havia um lugar
bonito ali, ao sabor do cotidiano, bonito seja, torna-se; onde pessoas na
militância dos dias em meio as agruras de suas lutas sem fim sobre temas muitas
vezes sem vitórias, um afago para ser aquele-aquela a conduzir o fogo mais
caro.
Uma
cidade mobilizada em prol daquilo que não é de sempre, não acontece usualmente,
não faz parte. Bem será por isso que se mobiliza, na alegoria da integração
desejada, nos descompassos dos resultados esperados e sabidos, diante dos
investimentos em juventudes e talentos pouco reconhecidos, seguimos destoando
nossa realidade naquilo que fazemos parte sem ser. Aliás, somos olímpicos em
esperança, em boa vontade, em otimismo. Ainda somos olímpicos em esperar... E
sempre que chamados fazemos parte da festa, dos outros.
Assim
como a Copa do Mundo, assim serão os Jogos Olímpicos no Brasil. Um grande
espetáculo para enriquecer grupos, no bolso e na vaidade, mas ainda assim,
chamando uns tantos mortais para fazerem parte do que será entendido o fogo que
integra, mas que sabemos muito bem que para existir queima muito potencial sem
apoio. Depois do padrão FIFA, outro padrão está nas ruas: o fogo fátuo olímpico. Belo dia estadual do Marabaixo!
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