sábado, maio 09, 2015

DE CERTOS JORNALISMOS E ASSESSORIAS

Não sou jornalista, escrevo esse texto como observador e como pesquisador de temas e provocações que se cruzam na prática da sala de aula, leituras, diálogos e na construção de hipóteses, na curiosidade que as aproximações me permitem.
Em primeiro ponto pondero junto com vossa consciência, leitor e leitora interessado (a), me permitindo a primeira pessoa na conversação desse texto. Vamos ao ponto: construir um contexto de profissionalização no indivíduo é um desafio, independente de qual área seja. Assimilar predicados, definir posturas, amadurecer valores, aprender a escolher e a identificar quando determinado ponto-de-vista cabe em cada situação. Ser jornalista, nosso espaço de observação aqui, parece não ser algo muito diferente. Na rotina daquilo que se convencionou o pensar sobre os perfis profissionais na contemporaneidade, temos um desafio pleno de definições. Afinal, o que é ser profissional tendo em vista certos processos que acabam confundindo definições de atuações por parte de outros atores sociais? E a verdade sobre quais valores seguir quando o que está em vista são debates humanizadores, por um lado, e por outros uma rotina de exploração do profissional? É possível relacionar de maneira tranqüila discursos que se dizem defender posturas democráticas e justas quando na prática do cotidiano mascaram gargalos de negação da individualidade do trabalhador?
Postas essas perguntas, nosso contexto de análise se estabelece no ambiente: das assessorias de comunicação no Amapá. Pelo que consigo observar, repito, não sendo jornalista, mas de uma posição privilegiada, os trabalhadores que formados ou com algum reconhecimento num tempo de crises de identidade do reconhecimento de diplomas jornalísticos, são explorados, chegando a um resumo de terem que doar suas horas úteis do dia e noite para figurar a imagem do assessorado.
Ser assessor nessa lógica e ter, segundo entendimento dos contratantes, que das vinte e quatro horas do dia, o contratado não ter vida própria e particular. Tanto isso é o que acontece que nas entrevistas de admissão logo se pergunta: é casado(a), tem filhos(as)? E se destacam subliminarmente outras perguntas: ainda pretende ter final de semana, tempo para um curso de aperfeiçoamento, leitura para ampliação da cultura geral, lazer, família... Ao menos um desses “benefícios”. Nada? Certamente deve ser pela natureza das relações e exigências que os espaços de assessoria definem que as vagas logo se desocupam. Aliás, um dos argumentos, diria intimidador, logo desferido a queima-roupa, é sobre se a pessoa do assessor não se enquadrando “peça pra sair”, clareando muito uma expressão tão popularizada hoje para quem não consegue viver, somente, a vida dos outros.
Quem ocupa vagas de assessorias relacionadas a pessoas públicas, políticos, empresas privadas sabe que tem como papel promover a imagem do assessorada. Nesse sentido deve fazer uso dos espaços e recursos para que a imagem do contratante esteja em evidência, especialmente de maneira positiva. Daí uma questão chega a nossa consciência. Uma assessoria seria exatamente o que, espaço de prestação de contas a um público que hoje se constitui pela difusa natureza de consumir produtos e serviços - e que exige, de maneira igualmente difusa, respostas a suas experiências de reclame pós-consumo? Ou, por outro lado, promoveriam as assessorias de comunicação, de maneira oportunista e demagógica, pessoas e instituições?
Pelo que se apresenta no contexto amapaense, boa parte das assessorias são lugares de uma dubiedade expressiva para se pensar como se definem as práticas e reconhecimentos da comunicação e de certo jornalismo no Amapá. Palavras como oportunismo, exploração, intimidação, engodo, que mereciam maior representação crítica por parte da representação local do sindicato dos jornalistas. Esse último ponto é central para se construir uma boa polêmica com resultados práticos. Se não há uma política discutida por uma categoria forte, coesa e orgânica, como haveria se existir no campo público ou privado respeito pelas práticas e papéis dos profissionais de comunicação em atividade nas assessorias e além? Difícil questão, tendo em vista que reclamar, criticar, promover debates é dar a face a instabilidade de não conseguir mais emprego, ser identificado como ingênuo num lugar de pessoas “sabedoras” que de tanto não se mobilizarem enquanto categorias que se empodera do poder critico da palavra, são constrangidos pelo poder da indicação, dos cargos comissionados, do famigerado mercado de trabalho nas entrelinhas. Que não perdoa ninguém, que não permite um jornalismo crítico que vá além do contracheque. Ficam as idéias para ponderação, mesmo não sendo jornalista e acompanhando a silenciosa agonia desse cenário...


Luciano Magnus de Araújo
Lma3@hormail.com

Nenhum comentário: