sábado, abril 18, 2009

Permanência e essência

Podemos hoje pensar um pouco mais na vida. Ou algo menos em comparação a pessoas de outras épocas. Mas se pensamos somos agentes de alguma provocação fundamental que a nós chegou como condição fundamental para a realização da vida. Mas o que permanece em nós como força e verdade? O que somos como potencial para o futuro? O que nos compete enquanto todos fazendo parte do uno que é o símbolo vital no tempo, no lugar? Somos tão frágeis enquanto condição humana, e ao mesmo tempo tão repletos (mas não plenos) de sentidos e desconexões. Somos como estivéssemos dentro de um grande lago oscilando entre tocar ou não o fundo, a terra mais abaixo de nossas possibilidades. Nesse mundo o que está em volta é somente ilusões de segurança. Parece não chegar nem peto do que seria um sentido mítico sobre as coisas da vida. Mas estamos e continuamos a hesitar entre dimensões desconhecidas; mesmo que façamos de tudo para tornar o mundo mais controlável. Mas há muito mistério, muito.

O que nós queremos realmente da vida? Poder, status, privilégios, vontade, potência, reconhecimento? Coisas tão evasivas quanto não saber-se pessoa humana. Será que esses que andam por ai nas ruas, que trabalham nas repartições, comércios e empresas, que estão nos veículos de opinião, que nos falam sobre o mundo, os donos e os despossuídos desse mundo; será que eles, nós, sabemos que somos criaturas humanas? E que o sentido de humanidade forma uma integridade moral e ética em todos os nossos dias, ao longo de nossa caminhada até os fins possíveis? Trabalhar e alcançar o sucesso, eis a questão ainda em aberto? Não se deixar passar para traz, eis o mandamento com o qual educamos nossas crianças? E nesse caso, mais preocupante são as várias estratégias que usamos para legitimarmos ou justificarmos porque é tão necessário que todos os jovens saibam plenamente “manjar” as armas da desfartez, do engano, da vaidade, do individualismo, da falta de vontade e respeito com o próximo? Onde o lugar do humano quando os homens-máquinas cortam sinais e impedem a vida de continuar seu caminho? Onde a gentileza? Onde o respeito? Onde a integridade, vizinha do moralismo descontextualizado e autoritário? Onde o valor do aprendizado para vida e não como mera instrumentalidade, que nos coloca na condição de objetos; quando usados e úteis, quando não, jogados fora, descartados dos projetos, poderes e vontades? Onde está você aprisionado em sua casa entre grandes, nos seus carros blindados de bons ares gélidos como sua falta de vontade, em seus escritórios e repartições a contabilizar nada mais que vaidade e mais-valia? Onde você encastelado em normas nada criativas? Em parceria com um poder escuso e interesseiro infringe o bom senso de todos os dias, sem se convencer que a vida é muito, mas muito mais que contas a pagar e receber? Onde o riso na face, que já não sabe mais nem se mostrar tendo em vista que a fonte do entusiasmo secou de tanta arrogância e apego a coisas sem sentido? Isso tudo que você aponta como seu mundo (material, alucinante, vaidoso) é o engano de todos os dias.

Isso não é dito de certa altura, nem por alguém isento de tudo, mas por alguém que vê com seus olhos o que fazemos minuto após minuto de nosso tempo de vida, de nosso lugar no mundo quando impedimos a chance dos outros, quando maltratamos a natureza e o próximo, quando nos acovardamos na idéia de que não fazemos diferença alguma para mudarmos velhas práticas viciadas e negativa, quando falamos demais, quando agimos de menos, quando simplesmente prometemos mentiras, quanto demarcamos posses, quando orgulhosos somos, agentes daquilo de pior no homem: sua falta de percepção por fazer parte de um conjunto, que não pensa na sua permanência e essência, gastando sua inteligência no imediato e na superfície.

Provoco os pensadores dessa terra a refletirem sobre nosso tempo e lugar, antes que seja catastroficamente tarde...

Dúvidas, orientações e sugestões, falar com o Professor Luciano Magnus de Araújo, na Faculdade Seama, ou contactar (96) 8117.7450, ou enviar mensagem. Email de contato: LMA3@HOTMAIL.COM, lucianoaraujo3@yahoo.com.br e
lmaraujo@seama.edu.br
ORKUT: Luc Araújo

quarta-feira, abril 08, 2009

Formação e transformação

É sempre positivo e necessário ressaltar que o mundo precisa de pessoas que transformem e não que permaneçam comodamente postas em suas locações. Precisamos pensar sobre esse tema cuidadosamente. Nós educadores possuímos a indiscutível missão de transformarmos pessoas para a transformação. Não há como se esquivar dessa missão, sob pena de meramente estarmos contribuindo para uma formação de uma sociedade conformista, passiva, esquiva a seus compromissos.

Transformar é ter consciência da responsabilidade, é ter aprendido interpretar o mundo, desbastar ou separar e reunir aspectos na complexidade do todo em que vivemos, e voltar ao todo. Essa, na verdade, uma postura tão divulgada nos bancos escolares; tanto que dominamos o mundo, manipulamos, modificamos esse mesmo mundo como uma experiência sem precedentes na história. E para, além disto, temos assuntos ainda não resolvidos. Limpar os excessos enganadores é nossa tarefa, saber desmistificar os discursos falaciosos, enganosos, os silogismos, as ideologias, que querem fazer passar por únicas respostas, por receitas indiscutíveis do que fazer. O que seria, portando, a possibilidade de realização dessas tarefas? É preciso atenção, a perda de rota é iminente. Não digo que seja ruim perder-se da rota eventualmente, dando lugar ao novo, a rediscussão, duvidando de nossas próprias opiniões. No entanto, o que é perigoso é sermos pessoas sem visão de mundo, sem sonhos, sem perspectivas; se é que isto pode ser possível tendo em vista que até mesmo o descaso é uma perspectiva de mundo, mesmo que turva. O perigoso alheamento de estar no mundo sem sermos atores dos eventos, dos acontecimentos, das reinvidicações, das emoções de estar no mundo, mas meramente como pessoas de segunda mão do movimento do cotidiano. Uma condição de segunda, terceira e tantas mãos, ou opiniões, que não correspondem as nossas próprias, sugestões sempre de outros, de outras fontes, de meios de comunicação, de interpretes de nossa vida, de certos falseadores...

Acordar para a vida também requer entender a dificuldade de criar novas posturas diante da vida, é nosso desafio; essas novas posturas teriam o teor de duvidarem do conforto que temos hoje em nosso cotidiano, de nossa posição social, de nossas certezas, das pessoas que nós somos. Qual o custo social, de vida, de humanidade para tudo isso acontecer? Quem não é para que eu seja? Quem deixa de viver para que eu viva, para que eu possa ir ao cinema, a universidade, ao supermercado? Quantos nunca conseguirão ser cidadãos para que eu consiga ser? Parece absurdo isso? E nesse campo chegamos ao nó do argumento: nesse caso poderíamos permitir que pessoas não sejam, não vivam, não existam como gente, cidadãos, indivíduos, para uns poucos possam ser? Nunca, essa seria a resposta sensata. Nunca deveremos permitir que outros sejam negados do seu direito a vida. Nossos sonhos devem conter a medida dos sonhos dos outros, e esse raciocínio poderia estar em extensão a outras realidades: a minha liberdade a medida da liberdade do outro, da sabedoria, da felicidade, das conquistas, dos outros, também.

Sem que cheguemos a cair em terreno igualmente falacioso, e querendo conversar com educadores e pais, façamos nosso papel em sermos agentes de pessoas que sejam formadas para transformar a vida em positividades. Não simplesmente pessoas que ocupam um lugar no mundo, mas que saibam definir medidas morais e éticas de suas ações e dos outros, sem se deixar cair no moralismo; e que tenham sempre em suas definições a ética da vida, da humanidade, do tempo que pertence a todos e cada um de nós. Precisamos pensar na responsabilidade social, mas além, na responsabilidade humana...

É preciso humanidade nesse nosso tempo de tanta contagem, e de tão pouco coração. Precisamos emocionar as pessoas trazendo, resgatando, evidenciado aquilo de melhor que possuem. A dificuldade muitas vezes de realizar tais boas ousadias está na dureza da casca que obstinadamente fortalecemos de vaidades, egoísmos, individualismo, parcialidades, indelicadezas, covardias, fraquezas, orgulhos, ressentimentos, soberba... Alguém de vocês leitores se vê nessas imagens?

As pessoas para a transformação precisam ser leves, amigáveis, solidárias, gentis, desarmadas. O mundo da vida agradece, nós leitores do mundo também. Força e luz!

Contatos: Luciano Magnus de Araújo - Antropólogo e Educador - lucianoaraujo3@yahoo.com.br lma3@hotmail.com - (96) 81177450.


segunda-feira, março 16, 2009

O papel das audiências públicas em Macapá

Na atualidade certamente uma das causas dos vários problemas existentes no campo da vida social está relacionado à falta de participação política. Os mais diversos ambientes sociais possuem essa identidade por serem construções coletivas. Portando, aquilo que existe na sociedade, mesmo que seja algo que destoe do que é coletivamente aceito, possui suas bases construídas por todos nós. Não se pretende aqui cair em certo sociologismo generalista, nem mesmo colocar em relação aos indivíduos, mas apontar a tese de que desenvolvemos, por fim, um conjunto de a sociedade em lugar de prioridade práticas e valores que apontam para a vida de indivíduos dependentes de outros indivíduos, naquilo de real ou de abstrato que possa se desdobrar de nossas vivências e entendimentos.

Dito isso, caminho para a vida desse artigo. Se temos uma sociedade que pouco participa das definições daquilo que acontece em seu meio indicamos a necessidade por espaços de debate, de confronto de opiniões, da troca de experiências e idéias. Lugares assim existem? Sim, existem e clamam pela participação da população, com o justo propósito da realização da condição de cidadania, ou seja, indivíduos da cidade, plenos e participantes. É legitimo o empoderamento da sociedade daquilo que é bom ou ruim sobre a vida em comum. Somos criaturas gregárias, gostamos da vida social e coletiva, mas por que será que temos pouco interesse naquilo que vai mais além do cercado de nossas propriedades privadas? Por que será que nos damos tão pouco para questões de maior alcance? Será por que delegamos poderes a outros para resolverem e pensarem por nós? Será que atestamos nossa incompetência cidadã? A participação política precisa ser pensada como algo maior e mais urgente, e não confundida por certas politicagens de plantão.

Como um desses espaços públicos temos as chamadas da Câmara Municipal dos Vereadores de Macapá convocando a população para discutir neste mês de março algumas questões relevantes: “IPTU, alvará de funcionamento e a regulamentação dos lotes da área urbana do município de Macapá”(26 de março), “Educação e direitos humanos no município de Macapá”(30 de março), “Empreendedores populares”(17 de marco), “Dia internacional contra a descriminação racial”(18 de março). Sem perdermos a oportunidade de ponderarmos um pouco mais sobre cada ponto precisamos vincular cada uma dessas coisas na rotina de nosso município, onde a vida real acontece. O problema dos tributos municipais estão na ordem do dia da localidade tendo em vista o problema habitacional, os apossamentos, os problemas estruturais de Macapá. Nesse sentido é relevante tal discussão pelo justo aspecto que toca a disposição do gestor público pretender o pagamento de IPTU numa localidade que não concebe estrutura adequada para a população. A questão seria: não há saneamento, pavimentação e cuidados básicos nos bairros de Macapá porque a população não paga seus tributos ou porque o gestor público municipal não consegue definir prioridades para trabalhar os recursos existentes? Ou se caímos exclusivamente nas prioridades esquecemos da vida global do município? Cabe discutirmos na Câmara! Sobre o tema dos direito humanos e a educação temos uma questão das mais importantes para que a sociedade se aperceba como portadora de direitos e garantias essenciais e inalienáveis. Uma das coisas percebidas no Fórum Social Mundial em Belém do Pará recentemente foi a divulgação de assassinatos e perseguições a pessoas que buscavam a discussão e o asseguramento dos direitos a vida e a participação políticas de uns outros. Isso aconteceu com Chico Mendes, com Dorothy Stang e com tantos outros que cruzam as linhas de interesses escusos de certas parcelas da sociedade. Cabe ainda mencionarmos os direitos humanos para os encarcerados, para a mulher, para as crianças e jovens, para as mais diversas representações étnicas e culturais. Os direitos humanos devem ser discutidos e realizados na estreita relação com a educação da população de maneira geral, como formação política básica, como realização cotidiana. Cabe discutirmos na Câmara! A sociedade não vive sem que haja a participação de camadas produtivas dos pequenos ou médios empreendedores. Aqueles que se enquadram na produção familiar, como artesãos, proprietários de micro e pequenas empresas, pessoas que de alguma maneira incrementam a circulação de valores na economia local; valores esses não estritamente financeiros, mas também de demonstração das capacidades humanas de modificar cenários econômicos e sociais que poderiam ser encarados como fechados ou sem perspectiva. Precisamos somar forças para criarmos campos de autonomia para que as pessoas consigam desenvolver seus talentos e suas potencialidades. Nesse sentido o debate sobre empreendedores populares conta com a participação de agências de fomento públicas apoiadores e investidores privados, os gestores governamentais e a população em geral. Por último, e não menos importante nesta listagem, a discussão sobre um dia de reflexão sobre e contra a discriminação racial. Como se deve saber o Brasil é um pais multicultural, pluriétnico, sincrético, portanto, não deve nem precisa haver espaços para ações que intentem contra a dignidade humana, seja fisicamente, seja simbolicamente. É de interesse da sociedade criar mecanismos que lutem contra qualquer tipo de discriminação, que torna os indivíduos desiguais, e no caso da dimensão racial, temos o agravante dessa discriminação ser de natureza cultural, ou em respeito a cor da pele, ou de certos hábitos e costumes que definem um povo, uma nação. A inferiorização do outro é um tipo de preconceito, de discriminação que fortalece etnocentrismos, ou seja, a prevalência de um ponto de vista como o exclusivamente certo. Algo que não convive bem com a democracia, com a liberdade, com a autonomia, com a valorização do outro como ensejamos nossa própria valorização por parte de alguém que nos observa. Cabe discutirmos na Câmara!

Portanto, cabe discutirmos estes e outros temas na Câmara, nas ruas, em casa, nas escolas, nos coletivos, no trabalho. Em qualquer lugar precisamos discutir os problemas da vida em sociedade, mas devemos ocupar este espaço cidadão por excelência, o Palácio Janary Nunes. Ressalvando essas atividades por parte do Vereador Rilton Amanajás, da parte de um cidadão que observa um representante do poder do povo. Por fim, tanta ponderação por parte da sociedade possibilita ações planejadas, consensuais, verdadeiras com aquilo que realmente pensa e necessita a sociedade. Realizando isto certamente conseguiremos passar da abstrata dimensão do contrato social e passamos a nos organizar como sociedade civil participativa e consciente.

Luciano Magnus de Araújo – Antropólogo, Músico e Educador – LMA3@HOTMAIL.COM – Esse artigo pode ser livremente usado, resguardando os direitos autorais. Mais artigos em www.observatorioamapa.blogspot.com - (96) 8117.7450