Admiramos, olhamos de perto-longe, fazemos torcida, somos fãs e tudo o mais que possa fazer peso no fato de seguirmos as pessoas, suas ideias e manias. E quando o mundo interior transparece? Quando conhecemos quem é a pessoa que tanto nos causou disposições de seguir cegamente, o que vem em questão?
Seguir
é o apanágio contemporâneo. Seguir, por que não seguir, o mantra. No intrincado
das coisas possíveis, hoje, bem pouco apelo é preciso para se tornar um eleito
pela multidão. Algumas características podem ser trabalhadas nesse quesito de
atração.
Pode-se ter uma aura acadêmica e desenvolver
argumentos e ideias que o vulgo não compreende lá muito bem, mas que caem de
maneira desconcertantemente bem audível, mesmo que não explique muito, mas é
coisa de gente sabida, portanto, coisa a ser seguida. Ideia-pedra, que se admira
como coisa-ídolo.
Pode-se
lançar mão de recursos comunicacionais. Escrever, ser da televisão, do rádio, do
cinema, da internet, essas coisas-meios que provocam exposição e, logo de
anônimo, tornar-se alguém que opina para o grande e vasto público que segue,
replica, comenta, que é fiel. Fidelidade atualizada por força da postagem
cotidiana, feita para renovar tendências, disposições, comentários, novas
postagens. O individuo perde até sua característica mais essencial, deixa de
ser-se para ser visto como o seguidor de... torna-se grife à sua revelia, será
mesmo?
Pode-se tornar aquele seguidor das
máximas politicas úteis de momento. Nada muito refletido, mas de profundidade
instantânea. Faça o teste. Observe por ai sobre o que e como se escreve a
respeito da politica mais televisiva do momento. Verá que interpretes do
cotidiano surgem aos montes e são cada vez mais eficientes em suas articulações
de visibilidade.
Pode-se lançar livros de autoajuda. Filão
de muito prestígio, tendo em vista que muitas vezes esses personagens-autores
podem figurar em meio diferentes para divulgar suas ideias-obras, na tv, nas
redes sociais... E os efeitos são semelhantes: serem cifras, gerar milhões de
seguidores, que nem sempre terão lido ou saberão de fato o que fez tal
pessoa-número para gerar tanta repercussão.
Pode-se tornar pessoa instantânea
por meio de algum talento descoberto pelos olheiros que por ai estão a buscar
novas atrações nos espaços de horários nobres que atrai multidões com outros
produtos agregados. De toda forma, variações do mesmo tema.
Como conviver nesse mundo de
ilusões? Iludindo-se ou traçando um caminhar diverso?
Provocação feita...
* *
Num segundo tempo de partida rica em
percalços, irrompe um grito confundível com revolta ou mesmo coisa que o valha.
- De que vale a torcida, se a
partida está vendida?
Quem ouviu não deu muito crédito. Lá
no campo estavam dois mundos em luta. Antes o que era parte fundamental maior
do que era a província e hoje a província emancipada, representada em seus
times. Jogo caro para o simples mortal. Quem pagaria cem dinheiros para ver
essa contenda? Alguns poucos para dizerem que estavam lá.
Partida reiniciada e na bolsa de
apostas estatísticas tendiam para os de casa. Grandes em tudo. Mas em nesse
tudo vasto, quem viver verá, sempre. Vitória dos visitantes. Coisa mais sem
jeito. Como pode ser? Na saída do estádio teve torcedor que ganhou ingresso que
disse:
- Esse foi o jogo que mais valeu a
pena pagar pra ver. Com dinheiro dos outros, é claro...
Placar
final...
* * *
Escondidos estão os sentidos
dos eventos dos dias. A verdade é uma estratégia de autoengano, dizem. Naquilo
que construímos em nosso tempo comum, vida urbana, privacidades, exposições,
campesino viver, naquilo que são os propósitos que nos fazem ser. Fortalecemos
certas maneiras, opiniões que nem sempre somos nós. Mas por conveniência das
relações nos tornamos. Diante disso, o que está lá, guardado, coisa de tempos?
O que está lá?
No exercício da escrita qualquer mistério é
terra preciosa. Seus segredos interessam como forma de imaginação de outros
mais. Pensar os enredos escondidos de outras vidas. Pensar os resguardos de
sociedades.
Que capacidade tamanha essa de estar em
outras vidas por meio de observação e escrita. Um exercício de vivências nada
fácil, mas que não tira a vontade de estar sempre em atuação...
* * * *
As relações amorosas são
desafiadoras hoje. Tenho muitas pessoas vivendo coisas afetivas que mereceriam
ao menos um conto. Gente casada, gente que quer descasar, gente carente, gente
cheia, gente que sonha amorosamente, gente magoada com essas coisas do amor.
Amor-amor, amor-paixão, desamor, desejo, vontade, ilusão. Musas e musos por
aqui, por ali, acolá. Essas coisas de sentimento-afetividade são mesmo
inspiradoras. Existem relações explicitas, dessas mostradas em redes sociais
como que para aprovação geral. E existem dessas relações escondidas, guardadas,
nas entrelinhas dos dias. Essas são interessantes. São relações dentro de
relações. Ou relações dentro de falsas relações. Mas existem aos montes. E aí
podemos pensar nas dificuldades das coisas escondidas. O segredo e sua
administração. Hoje quase tudo está passível de cair na dimensão do público. E
isso é um perigo. E quais os atrativos da coisa em segredo? O olhar em segredo,
o admirar em segredo, o desejar em segredo, o segredo de ter alguém, um ou outro
alguém, em segredo.
Vivemos mesmo uma vida liquida, como
diria o sociólogo polonês Zigmund Bauman? Amores líquidos? A liquidez do nada
certo, sólido, garantido?
Serão risíveis amores românticos? Duradouros,
para sempre?
Quais as nossas caixas de segredos?
O que elas contêm?
Assim como disse Camus: “Vou-lhe
dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se
todos os dias”.
Respiros:
- Qual o peso dos crimes de colarinho
branco em nossa sociedade?
- Cuidado com sua vida a credito!
- Todos os dias descobrindo o escondido...
- Professor, professora, seja afetivo em
sala.
- Andas sorrindo ou carrancudo?
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