domingo, maio 03, 2009

As gripes do fim do mundo

Toda vez que noticiam que há uma nova doença a assolar esse pequeno mundo, penso que será a última, e que todos iremos desaparecer. Penso também sobre os filmes de fim de mundo que estamos acostumados a ver no aconchego do nosso lar. Penso o quanto ainda não vivi tanto do que essa mesma realidade oferece e ainda pode oferecer.

Em verdade, esse nosso planeta já morreu tantas vezes, e de tantas maneiras, que somente um interessado pela história da vida e da natureza humana, de maneira obstinada, conseguirá dimensionar o quando tudo esteve por um fio. Somos uma espécie, dentre tantas outras, marcada ao fim, nem que esse fim seja algo criado e reforçado por nossos sistemas culturais simbólicos.

Mas, falando sobre coisas atuais nas crônicas jornalísticas... Há estados gripais nas noticias, e estados de resfriado, coisas que hoje em dia se deve definir muito bem, sob pena de discursos defasados. O que há de verdade, o que há de contágio (usando jargões de marketing viral, em apropriação) de pessimismos virais sobre aquilo que se lega ao povo mexicano “causador” de instabilidades divulgadas pelas instâncias de saúde mundiais? Relegamos o México a ser um lugar contagioso, intocável, e os simbolismos se ampliam. Um pais tão populoso, pondo em perigo sua vizinha nação poderosa, mas alquebrada na resenha econômica, é demais. Tudo isso ao menos é útil, diriam alguns, para desviar as atenções do mundo sobre a crise econômica, mirando uma possível pandemia, e mais uma vez achando culpados categóricos. Além disso, há sempre o perigo do primeiro mundo sentir aquilo que os outros mundos reais vivem já desde muito tempo: a falta de segurança e alternativas sobre coisas que não conseguem controlar, aquilo que toca a vida diretamente.

A história da gripe é a mostra de certo poder devastador, principalmente quando vista a época da presença histórica da ação desses agentes infecciosos. Da gripe aviária (1901, 2003), a gripe espanhola (1918) levando entre 20 e 100 milhões de pessoas, a gripe de Hong Kong (1968) vitimando 34 mil mortos somente nos Estados Unidos, e no mesmo pais em 1957-58 a gripe asiática faz sucumbir 86 mil pessoas, além de outros milhões mundo afora; sem esquecer da gripe russa (pioneira entre 1889-1890) que mata o primeiro milhão de pessoas e acontecia num tempo de ciência ainda em desenvolvimento em termos de profilaxia.

Agora o novo cenário recorre aos suínos, de dois dias prá cá, de gripe suína agora demos um novo nome: gripe A. Mas o estrago já está feito em termos do extermínio de criações de suínos mundo afora, além de uma ágil propaganda negativa. Aqueles que vivem tendo como base essa economia certamente foram pegos de surpresa. É fundamental que as denominações também sejam cuidadosamente vistas pelos cientistas sob pena de alcançarem dimensões sociais, econômicas, domésticas e profissionais de vastas e irremediáveis conseqüências.

O jornalismo televisivo, muito eficiente em propagar erros, desvios e distorções, já dá conta de registrar as falas de populares da cidade do México, dentre outras, reclamando que as autoridades mentem quando ao alcance da ação do vírus. Perde o comércio local, perde o turismo, perdem as pessoas no seu direito de ir e vir. Repito, além de ser um vírus que parece ser mais insidioso que o da gripe aviária de 2003, a gripe suína/A, ainda não possui medicamentos possíveis, para breve. E é nesse sentido que é preciso ver em maior detalhes os alcances e desdobramentos dos potenciais de tratamento, mas não somente para o corpo, igualmente para as conseqüências sociais em meio ao processo e a posteriori.

É relevante ressaltar o quanto a comunidade internacional é atingida por acontecimentos dessa natureza. Quem viaja de avião? Uma parcela da sociedade. Mas os aeroportos como não-lugares, ou como terreno internacional, deve cuidar pela saúde daqueles que circulam em suas dependências. As características do vírus definem novas modalidades de reunião, contato, convivência. Profissionais dizem: não pratiquem a velha encenação social de cumprimentos com beijos nas faces, lave bem as mãos, procurem saber onde esteve seu interlocutor. Respirar hoje pode ser um caso muito sério. As mascaras nas faces representam muito daquilo que é simbolicamente e na prática certo afastamento que já nos acostumamos a praticar em nossas relações políticas, sociais e econômicas. A sua materialização nos aeroportos e ruas de algumas cidades é somente o resultado de certa sanha de coisas que carregamos conosco, adormecidas e que em algum dia desperta, cumprindo o paradoxo de fazer adormecer nossos entes queridos ou boas parcelas daqueles que nem nos damos conta. Ao final, seja como pandemias ou em menores proporções, as doenças sempre acabam por nos igualar por baixo: a partir de nossas fraquezas evidentes, enquanto humanos, demasiadamente humanos...

Respiros

- Ainda repercute, na classe dos políticos brasilianos, o reincidente argumento de que teriam todo direito e legitimidade de lavarem suas cônjuges a Brasília em sua permanências em exercício, ou seja, em trabalho. Perguntamos todos, para quê? Insistências nessa linha da permissividade (até por parte do presidente Lula) torna-se mais um motivo feito, encontrado e fortalecido para a população brasileira sempre mais desconfiar da má fé da classe política nesse nosso Brasil varonil.

- Humor de péssimo gosto: A gripe suína bem que poderia chegar a Brasília e contaminar os espíritos de porco de lá.

- O Brasil perde um grande brasileiro, criador do Teatro do Oprimido, pensador do teatro, o grande Augusto Boal. Nosso próximo artigo será sobre essa figura irrequieta que pensou muito bem a condição humana pela perspectiva da libertação do homem a partir de suas potencialidades, vendo a todos como capazes de promover suas descobertas; o teatro, a representação, a autodescoberta eram suas armas. De oprimidos por condições gerais à autônomos e colaborativos socialmente. Sempre na perspectiva de que um mundo melhor é possível! Viva Boal!

- Para quem quer conhecer mais aquilo que está implicado nas questões entre transgênicos, multinacionais e certo agronegócio que impede a atividade de pequenos agricultores por meio do monopólio de sementes e insumos, recomendo a leitura da obra “Mundo segundo a Monsanto: da dioxina aos transgênicos uma multinacional que quer seu bem”, de Marie-Monique Robin, editora Radical Livros. A esse respeito a revista Caros Amigos (abril, 2009) publica uma instigante entrevista com a autora com o titulo Os venenos da Monsanto. Vale ler e debater.

- Acompanhem a programação para os meses de maio-junho (2009.1) das atividades do NEPPAC – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Pedagogias, Antropologias e Complexidades. Endereço eletrônico: www.neppac.blogspot.com

Dúvidas, orientações e sugestões:

Msc. Luciano Magnus de Araújo.

Para Conversações: (96) 8117.7450

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