quinta-feira, março 13, 2008

BEIRA-RIO, MACAPÁ E ESPAÇOS PÚBLICOS

É comum, quando se referindo a um passeio descontraído, chamar o dito ato de charlar. Andar a esmo, por ai, um rolê, como se diz em outras praias e praças. Em Macapá não seria diferente, existe um lugar próprio para que as pessoas possam gastar tempo sendo vistas, mostrando-se, procurando e encontrando motivação para encontros, ou simplesmente estando. Esses lugares, já estudados pela antropologia, compõem circuitos, manchas, espaços, trajetos referentes a grupos, pessoas que se identificam por terem uma relação recorrente em usar e estar nesses espaços urbanos. Repleto de sentidos a cidade não deve ser vista somente como espaço de circulação, mas também como lugar de construção da cidadania.
Nesse contexto, a permanência desses lugares reconhecidos pelas pessoas como pleno de sentidos para caminhar, para o lazer, atividades econômicas, deve ser assegurado em parte pelos próprios usuários, nós todos os cidadãos, a iniciativa privada em seus empreendimentos e utilizações, e compondo o tripé, os poderes e gestores públicos como mantenedores pelo bem comum. É importante ainda salientar que nenhuma proposta visando benefícios a coletividade pode excluir os impactos das ações. Quando falamos de planos, projetos e iniciativas que comportem interesses diversos é preciso deixar bem claro quais serão as conseqüências dessas iniciativas, sob pena de se construir ações parciais, demagógicas, sem praticidade para o cotidiano da cidade e da população.
Em respeito a esse contexto bem sabemos que o município de Macapá necessita de melhoramentos estruturais que repercutem nos problemas apontados pela população: vias sem ou de precária pavimentação, acumulo de águas e falta de drenagem, buracos ou asfalto ineficiente, falta de saneamento, dentre uma série de outros problemas mais específicos ou mais amplos. É bem certo que esses problemas estão na agenda das cidades, grande médias ou pequenas, e que não há como furtar-se aos desafios. No entanto, é preciso ponderar sobre o alcance das resoluções desses problemas, principalmente quando possuem alguma relação como alguns pontos da vida urbana: lazer, economia, cidadania, gestão e uso de espaços públicos.
É comum à iniciativa pública, utilizando-se do argumento de melhoramento das vias e equipamentos públicos, promover o atravancancamento da realização do ser cidadão nas acepções que o cotidiano pode suportar. Conto melhor. Os freqüentadores da Beira-Rio, da Praça Zaguri e do Trapiche Eliezer Levy, estão impedidos de realizar seus costumes diante do Rio Amazonas, por falta de perícia dos planejadores urbanos na demora da execução do projeto arquitetônico. Passadas as festas de ano passado, entrado outro ano, chegado carnaval. Será que a prática realmente irá vigorar, do Brasil começar a funcionar depois do Carnaval?
O incomodo geral e amplo deve ser dimensionado nos planejamentos das políticas públicas. Para além do lazer dos cidadãos é preciso pensar os danos causados na economia de dezenas de famílias. O quando do turismo é posto em cheque pela demora, a perda da beleza na aparência dos tapumes, e obras evidentes. Em épocas de chuva chegada-chegando certamente teremos mais atrasos.
É bem certo que a intenção do administrador público presume melhoramentos, embelezamentos, praticidades em benefícios de todos. No entanto, é preciso diligência, gerenciamento mais eficiente e o senso de ouvir os diretamente implicados nesse processo como os vendedores dos quiosques, ambulantes, passantes, turistas, empreendedores.
Luciano Magnus de Araújo - Antropólogo, educador e pesquisador sobre culturas. Lucianoaraujo3@yahoo.com.br, www.neppac.blogspot.com

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