Não sou jornalista, escrevo esse texto como observador
e como pesquisador de temas e provocações que se cruzam na prática da sala de
aula, leituras, diálogos e na construção de hipóteses, na curiosidade que as
aproximações me permitem.
Em primeiro ponto pondero junto com vossa consciência,
leitor e leitora interessado (a), me permitindo a primeira pessoa na conversação
desse texto. Vamos ao ponto: construir um contexto de profissionalização no
indivíduo é um desafio, independente de qual área seja. Assimilar predicados,
definir posturas, amadurecer valores, aprender a escolher e a identificar
quando determinado ponto-de-vista cabe em cada situação. Ser jornalista, nosso espaço
de observação aqui, parece não ser algo muito diferente. Na rotina daquilo que
se convencionou o pensar sobre os perfis profissionais na contemporaneidade,
temos um desafio pleno de definições. Afinal, o que é ser profissional tendo em
vista certos processos que acabam confundindo definições de atuações por parte
de outros atores sociais? E a verdade sobre quais valores seguir quando o que
está em vista são debates humanizadores, por um lado, e por outros uma rotina
de exploração do profissional? É possível relacionar de maneira tranqüila
discursos que se dizem defender posturas democráticas e justas quando na
prática do cotidiano mascaram gargalos de negação da individualidade do
trabalhador?
Postas essas perguntas, nosso contexto de análise se
estabelece no ambiente: das assessorias de comunicação no Amapá. Pelo que
consigo observar, repito, não sendo jornalista, mas de uma posição privilegiada,
os trabalhadores que formados ou com algum reconhecimento num tempo de crises
de identidade do reconhecimento de diplomas jornalísticos, são explorados,
chegando a um resumo de terem que doar suas horas úteis do dia e noite para
figurar a imagem do assessorado.
Ser assessor nessa lógica e ter, segundo entendimento
dos contratantes, que das vinte e quatro horas do dia, o contratado não ter
vida própria e particular. Tanto isso é o que acontece que nas entrevistas de
admissão logo se pergunta: é casado(a), tem filhos(as)? E se destacam subliminarmente
outras perguntas: ainda pretende ter final de semana, tempo para um curso de
aperfeiçoamento, leitura para ampliação da cultura geral, lazer, família... Ao
menos um desses “benefícios”. Nada? Certamente deve ser pela natureza das
relações e exigências que os espaços de assessoria definem que as vagas logo se
desocupam. Aliás, um dos argumentos, diria intimidador, logo desferido a
queima-roupa, é sobre se a pessoa do assessor não se enquadrando “peça pra sair”,
clareando muito uma expressão tão popularizada hoje para quem não consegue
viver, somente, a vida dos outros.
Quem ocupa vagas de assessorias relacionadas a pessoas
públicas, políticos, empresas privadas sabe que tem como papel promover a
imagem do assessorada. Nesse sentido deve fazer uso dos espaços e recursos para
que a imagem do contratante esteja em evidência, especialmente de maneira
positiva. Daí uma questão chega a nossa consciência. Uma assessoria seria
exatamente o que, espaço de prestação de contas a um público que hoje se
constitui pela difusa natureza de consumir produtos e serviços - e que exige,
de maneira igualmente difusa, respostas a suas experiências de reclame pós-consumo?
Ou, por outro lado, promoveriam as assessorias de comunicação, de maneira
oportunista e demagógica, pessoas e instituições?
Pelo que se apresenta no contexto amapaense, boa parte
das assessorias são lugares de uma dubiedade expressiva para se pensar como se
definem as práticas e reconhecimentos da comunicação e de certo jornalismo no
Amapá. Palavras como oportunismo, exploração, intimidação, engodo, que mereciam maior representação crítica por parte da representação local do sindicato dos
jornalistas. Esse último ponto é central para se construir uma boa polêmica com
resultados práticos. Se não há uma política discutida por uma categoria forte,
coesa e orgânica, como haveria se existir no campo público ou privado respeito
pelas práticas e papéis dos profissionais de comunicação em atividade nas
assessorias e além? Difícil questão, tendo em vista que reclamar, criticar, promover
debates é dar a face a instabilidade de não conseguir mais emprego, ser
identificado como ingênuo num lugar de pessoas “sabedoras” que de tanto não se mobilizarem
enquanto categorias que se empodera do poder critico da palavra, são
constrangidos pelo poder da indicação, dos cargos comissionados, do famigerado
mercado de trabalho nas entrelinhas. Que não perdoa ninguém, que não permite um
jornalismo crítico que vá além do contracheque. Ficam as idéias para ponderação,
mesmo não sendo jornalista e acompanhando a silenciosa agonia desse cenário...
Luciano
Magnus de Araújo
Lma3@hormail.com
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