quinta-feira, maio 21, 2015

OPINIOSO DA QUINTA - Homenagens ao cidadão ninguém

           A cidadania é uma condição difícil em tempos de hoje. Ser cidadão sabedor de seus direitos e deveres, indivíduo útil em seu tempo, produtivo, conhecedor dos meandros da realidade contingencial mais próxima e além não é um exercício fácil. Há quem diga que em outros tempos a dificuldade era maior tendo em vista direitos restringidos, ausência da tal democracia identificada nos tempos de hoje. Há quem diga que em tempos idos fosse mais fácil definir forças em contrário às boas energias, sem demagogias e disposições afins.
Mas para quem vive o hoje certamente resumir o cotidiano em análise seja uma natureza de igual exercício, ao mesmo tempo instigante e problemático. Tome qualquer tema em redor e observe o quanto estamos à deriva. Tenhamos a política como mote para essa conversa. Quem se localiza tão bem que consegue identificar e nomear essas forças que orientam disposições, sem que haja nada encoberto, mal contado, isento, não contaminado? Quem? Quem consegue desenvolver a devida análise de conjuntura que não esteja eventualmente tendenciosa por uma série de acordos, conchavos, ligações, deveres que não seguem a regra oficial e que nas entrelinhas mesmas das relações entre essas forças faz cego o cidadão comum diante do que nada supõe existir? Quem?
Mas afinal qual o sentido da oficialidade nas práticas políticas hodiernas? Nas casas de representação? Qual o sentido das práticas oficiais na política partidária no Brasil, nos governos estaduais em nosso pais, nos municípios? O poder da representação hoje na figura do campo legislativo deve obrigações e respostas a quem, afinal? Que decisões são permissíveis? Quais seriam vedadas ao legislativo? Como não dizer que uma casa de representação do poder legislativo não está amarrada nesse jogo de interesses que seja de alguma forma obrigada a mostrar sua submissão e dependência em expedientes muitas vezes simbólicos, sem valor, ou mesmo pouco observados pelo cidadão comum? Quando, por exemplo, uma assembleia homenageia figuras cuja expressão não está acima de qualquer suspeita o que isso representa para a índole desse poder? Onde fica o papel do cidadão comum tendo em vista que o poder legislativo de sua cidade ou seu estado homenageia certas figuras, esse indivíduo estaria a assinar embaixo, mesmo sem saber?
Uma homenagem é, no mínimo, uma indicação de sintonia. Homenageia-se quem se toma por valor, consideração, por benefícios realizados, alguém que de fato é considerado bem feitor; regra essa que é flexibilizada, bem recebida. Faz-se a média, agrada-se, demonstra-se que somos do seu time, por isso sua figura sendo homenageada, nosso cidadão impoluto, modelo, título recebido, dado, sem constrangimentos. E de forma tácita foi feito o trabalho devido, o rito da assembleia, que amanhã será notícia fria nos jornais. Mas fica a imagem, fica a simbologia.
Ao cidadão comum, o individuo mediano, que homenagens são devidas? Desmandos, engôdos, desconversas, a mesma medida de demagogias e desfaçatez? Mas para quem tem seu dia cheio em acordar cedo, pegar uma condução coletiva lotada, cumprir mais um dia duro sem privilégios, verbas extras, sabendo que seu orçamento e ganhos seguem uma rotina de apertos e limitações, entende muito bem que isso tudo está fora de sua realidade. Em verdade nem sabe.
O cidadão deveria ser todos os dias homenageado pela sua lida necessária. No entanto, nas casas de representação Brasil afora a figura menos prestigiada é a dos que nunca adentrarão esses lugares, ao menos cientes do valor e poder que possuem.


Luciano Magnus de Araújo
   Lma3@hotmail.com  

Fonte da imagem: Jornal do Dia.
                      

Nenhum comentário: