A cidadania é uma
condição difícil em tempos de hoje. Ser cidadão sabedor de seus direitos e
deveres, indivíduo útil em seu tempo, produtivo, conhecedor dos meandros da
realidade contingencial mais próxima e além não é um exercício fácil. Há quem
diga que em outros tempos a dificuldade era maior tendo em vista direitos
restringidos, ausência da tal democracia identificada nos tempos de hoje. Há
quem diga que em tempos idos fosse mais fácil definir forças em contrário às boas
energias, sem demagogias e disposições afins.
Mas
para quem vive o hoje certamente resumir o cotidiano em análise seja uma
natureza de igual exercício, ao mesmo tempo instigante e problemático. Tome
qualquer tema em redor e observe o quanto estamos à deriva. Tenhamos a política
como mote para essa conversa. Quem se localiza tão bem que consegue identificar
e nomear essas forças que orientam disposições, sem que haja nada encoberto,
mal contado, isento, não contaminado? Quem? Quem consegue desenvolver a devida
análise de conjuntura que não esteja eventualmente tendenciosa por uma série de
acordos, conchavos, ligações, deveres que não seguem a regra oficial e que nas
entrelinhas mesmas das relações entre essas forças faz cego o cidadão comum
diante do que nada supõe existir? Quem?
Mas
afinal qual o sentido da oficialidade nas práticas políticas hodiernas? Nas
casas de representação? Qual o sentido das práticas oficiais na política
partidária no Brasil, nos governos estaduais em nosso pais, nos municípios? O
poder da representação hoje na figura do campo legislativo deve obrigações e
respostas a quem, afinal? Que decisões são permissíveis? Quais seriam vedadas
ao legislativo? Como não dizer que uma casa de representação do poder legislativo
não está amarrada nesse jogo de interesses que seja de alguma forma obrigada a mostrar
sua submissão e dependência em expedientes muitas vezes simbólicos, sem valor,
ou mesmo pouco observados pelo cidadão comum? Quando, por exemplo, uma
assembleia homenageia figuras cuja expressão não está acima de qualquer
suspeita o que isso representa para a índole desse poder? Onde fica o papel do
cidadão comum tendo em vista que o poder legislativo de sua cidade ou seu
estado homenageia certas figuras, esse indivíduo estaria a assinar embaixo,
mesmo sem saber?
Uma
homenagem é, no mínimo, uma indicação de sintonia. Homenageia-se quem se toma
por valor, consideração, por benefícios realizados, alguém que de fato é
considerado bem feitor; regra essa que é flexibilizada, bem recebida. Faz-se a
média, agrada-se, demonstra-se que somos do seu time, por isso sua figura sendo
homenageada, nosso cidadão impoluto, modelo, título recebido, dado, sem
constrangimentos. E de forma tácita foi feito o trabalho devido, o rito da
assembleia, que amanhã será notícia fria nos jornais. Mas fica a imagem, fica a
simbologia.
Ao
cidadão comum, o individuo mediano, que homenagens são devidas? Desmandos, engôdos,
desconversas, a mesma medida de demagogias e desfaçatez? Mas para quem tem seu
dia cheio em acordar cedo, pegar uma condução coletiva lotada, cumprir mais um
dia duro sem privilégios, verbas extras, sabendo que seu orçamento e ganhos
seguem uma rotina de apertos e limitações, entende muito bem que isso tudo está
fora de sua realidade. Em verdade nem sabe.
O
cidadão deveria ser todos os dias homenageado pela sua lida necessária. No
entanto, nas casas de representação Brasil afora a figura menos prestigiada é
a dos que nunca adentrarão esses lugares, ao menos cientes do valor e poder que
possuem.
Luciano Magnus de Araújo
Lma3@hotmail.com
Fonte da imagem: Jornal do Dia.
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