Em
geral parece ser comum aos professores, pelo que tenho visto, conversado e
debatido, quando chegam período de férias se distanciam de tudo que os faça
lembrar o dia-a-dia de textos, papéis, discursos elaborados, ideias difíceis.
Querem mesmo, segundo boa maioria, distância do que possa lembrar a labuta. Mas
se pensarmos bem, as desejadas férias podem ser momentos de aprendizado. Seja
com mais ou menos tempo, temos nessa época a possibilidades de buscar novas
experiências, contatos, referências. Viajar e ter acesso a bibliotecas,
livrarias, acervos, pessoas, instituições deveria ser sim uma fase ao menos
anual para todo educador, de fato. O sentido não é somente restabelecer o corpo
das atividades do trabalho cotidiano na educação, mas igualmente alimentar a
mente e a alma de experiências reflexivas. Fazer do tempo de folga um momento
de aprendizado. Nisso se incluem as leituras, os livros, as revistas, e todo o
conjunto de material relevante às praticas de ensino-aprendizagem que possam
valer trazer na mala e no pensamento.
No
entanto, a regra e o bom hábito da leitura e da pesquisa valem, também, mesmo
em épocas de trabalho. Ler deve ser um hábito cotidiano, assim como são as
atividades que desenvolvemos para alimentarmos e cuidarmos do corpo, e assim,
do espírito.
Se
em geral o professor e a professora reclamam muitas vezes do pouco tempo que
possuem para atividades outras que não seja a sala de aula, os planejamentos e
temas afins que a escola ou a academia exigem; ainda assim, é preciso valorizar
as semanas de folga anual ou mesmo semestral, em alguns casos. Dar-se ao prazer
de ler um livro com mais atenção e tempo. Degustar a trama, os argumentos, sem
a pressa de fechar logo os planejamentos é algo de muita satisfação. Mas até
para saber aproveitar esse tempo é preciso ter critérios. Se me permitem um
comentários sobre minhas leituras dessa época... Costumo ler, independente de
férias ou não, biografias, material sobre artes, romances maiores que me
permitam mergulhar em tramas e viver o imaginário de épocas, as relações entre
personagens, estudar estilos de escrita, mergulhar nos processos criativos.
Aprecio contos, poesia... Assim enriqueço possibilidades interpretativas,
imagens, visões de mundo, e incremento caminhos criativos. Ler é o prazer de
descobrir mundos, não há que pensar diferente. E até penso que o ato de leitura
precisa ser desenvolvido em quantidade e qualidade. É bem certo que se diz que
gosto não se discute, mas também concordo que tais gostos podem ser
aprimorados, ampliados, diversificados. Outras fontes de interesse criam outras
curiosidades, outras procuras, outras relações. Nesse campo a relação do texto
impresso em relação ao digital levanta questões importantes sobre hábitos de
leitura.
Em
tempos de livros digitais, os chamados ebooks,
vale uma ressalva. É indiscutível que hoje em dia o argumento da falta de
acesso à leitura deve ser relativizado.
Antes do advento dos livros digitais vivíamos exclusivamente a realidade
de livros caros e difíceis de encontrar. Os livros impressos ainda são caros e
muitas das vezes impossíveis de serem alcançados. No entanto, a realidade do
mundo digital e as práticas de compartilhamento possibilitam um maior acesso a
leitura. Hoje os leitores de ebooks tornaram esse acesso um misto de
conveniência, praticidade e quebra de modelos de divulgação e consumo. Por pouco
mais de duzentos reais consegue-se adquirir um leitor de livros digitais e ali
transportar mais de mil livros a sua escolha, sem fazer propaganda de nenhum
chamado gadjet. A alimentação e
renovação do acervo podem ser feitas em vários sites espalhados na web. Diante disso por que não ler?
Tempo? Falta de uma internet de qualidade? Quando há interesse há tempo, e
livros são arquivos não muito ‘grandes’ ou ‘pesados’ para serem ‘baixados’. Busque
explorar as possibilidades, tempo sempre existe. Interesses estão em volta.
Observe, crie suas curiosidades. Independente de ser ou não professor ou
professora leia. O hábito da leitura só acontece pela prática. Quanto mais se
lê, mais se quer ler. Benefícios? Ampliação do vocabulário, argumentos melhor
articulados, novas ideias, repertórios outros, novas ligações com outros tempo
e realidades... Diante disso tudo por que não se tornar uma leitora, um leitor?
Por
último, certamente a tônica das leituras que faço demanda afinidades que devem
com mais ou menos cuidado (ou mais ou menos critério, ou liberdade) ser a
prática dos educadores, e dos leitores e leitoras em geral. Visitem as
livrarias e bibliotecas, se permitam um bom passeio pelas-entre as estantes,
deixem os olhos e as mãos tocar os livros, estabeleçam esse contato de
sensibilidades. Deixem a curiosidade acontecer. Façam de seus momentos de
folga, ou em meio aos períodos de trabalho, instantes de renovação e reflexão.
A formação continuada deve acontecer de maneira a tornar o ato de aprendizado
um prazer constante. Seja na leitura de planejamento, de atualização, de
prazer, nos debates, nos círculos de estudo. Certamente mais uma multidão de
indicações devem aparecer para os períodos de recesso quando o educador e a
educadora, mesmo a pessoa que não trabalho na educação, se disponibilizarem a
tornar constante sua curiosidade e aprendizado. As salas de aulas tornam-se
mais iluminadas e criativas quando essas experiências são compartilhadas e
fomentadas. As salas de casa tornam-se mais interessantes quando se possui mais
sobre o que falar. Boas leituras!!!
Esse meu texto foi publicado primeiramente no Jornal A Gazeta (Amapá) em 28/03/2015.
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